ELIAS E ELISEU, JOÃO E JESUS


por Lucio Manoel

É notável que o próprio Antigo Testamento termine relembrando Elias e proclamando a sua volta (Ml 4.56). Os escritores do Novo Testamento também fizeram um extenso uso das narrativas de Elias e Eliseu. Mateus fornece um bom exemplo de como os autores neotestamentários desenvolveram esses materiais.

  O primeiro evangelista traça paralelos literários entre as vidas de Elias e Eliseu e as de João Batista e Jesus. Ele apresenta João como o cumprimento da profecia de Malaquias de que Elias voltaria (Ml 4.5) e caracteriza Jesus como o novo Eliseu. É provável que os judeus do tempo de Jesus esperassem que Elias ressurgisse literal e fisicamente da sepultura e, portanto, quando João Batista foi questionado se era Elias, ele respondeu: “não sou” (Jo 1.21). Ao menos no início de seu ministério, João Batista parece não estar consciente de que cumpria o papel do esperado Elias. Por outro lado, Jesus descreveu João como “o Elias que estava para vir” (Mt   11.14; 17.12), e Mateus segue esse caminho para provar como aconteceu.

1.Elias era conhecido pelo modo peculiar de se vestir. Quando Acazias enviou mensageiros para consultar Baal-Zebube, deus de Ecrom, os emissários se depararam no caminho com uma figura misteriosa que os mandou de volta ao rei. Quando o rei lhes perguntou: “Qual era a aparência do homem que vos veio ao encontro?”, os mensageiros responderam: “Era homem vestidos de pelos, com os lombos cingidos de um cinto de couro” (2Rs 1.7,8). A partir dessa mínima descrição, o rei soube imediatamente que seus convidados haviam se encontrado com Elias. Quando João Batista começou sua pregação, Mateus o apresentou dizendo: “Usava João vestes de pelos de camelo e cinto de couro” (Mt 3.4). Essa singularidade indumentária evocava a memória de Elias.

2.Ao longo de suas vidas, Elias e João Batista enfrentaram um poder político hostil. Em particular, o principal antagonista de ambos foi uma mulher que atentou contra suas vidas. Para Elias, fora Jezabel (1Rs 19.2,10,14), enquanto para João, foi Herodias (Mt 14.3-12).

3.Elias e João Batista ungiram seus sucessores no rio Jordão. Eliseu acompanhou Elias ao Jordão e pediu-lhe que uma porção dobrada do espírito de Elias também repousasse sobre si (2Rs 2. 9-14). Quando João batizou Jesus no Jordão, ele viu os céus se abrindo e o Espírito de Deus descendo sobre o filho de Deus (Mt 3.13-17). Elias foi o precursor de Eliseu, da mesma forma que João Batista o foi para Jesus. Lucas também trabalha esse tema: quando o nascimento de João Batista foi predito a seu pai, Zacarias, o anjo Gabriel disse que João viria “adiante do Senhor no espírito e poder de Elias” e que João cumpriria a missão atribuída a Elias por Malaquias: “Para converter o coração dos pais aos filhos” (Lc 1.17; Ml 4.6).

4.Talvez não exista nem uma outra parte do Antigo Testamento tão farta em milagres quanto a narrativa de Eliseu . Após conceder a porção dobrada de espírito perdida pelo profeta, Deus demonstrou sua aprovação a Eliseu e testificou a mensagem por ele proclamada através dos milagres que acompanharam o seu ministério. Do mesmo modo se deu a multiplicação de milagres quando Deus testificou o ministério do seu próprio filho (Hb 2.3,4). Supunha-se que o aparecimento de Elias inauguraria “aquele grande e terrível dia do Senhor “,   o dia em que Deus julgaria o mal, enquanto protegeria e preservaria seu povo. Durante sua prisão, João Batista ouviu que Jesus estava ensinando e pregando na Galiléia. Por isso, João enviou mensageiros para que perguntassem a Jesus: “És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro?”. Mateus relata o que Jesus disse aos discípulos de João: “Ide e anunciai a João o que estás ouvindo e vendo: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres está sendo pregado o evangelho” (Mt 11.4,5). Essa é em grande parte a lista dos milagres de Eliseu: ele restabeleceu visão a um cego (2Rs 6.18-20), curou a lepra (2Rs 5), trouxe um morto a vida (4.32-37; 8.4-5; 13.21) e trouxe boas – novas ao destituído (1-7; 7.1-2; 8.6.). Tal lista de milagres de Eliseu se confunde com a do servo prometido do Senhor (Is 61.1-3). Jesus, com efeito, estava revelando  a João: ”O sucessor de Elias chegou. Eu sou aquele que você está procurando”.           
Retirado do livro Introdução ao Antigo Testamento. Raymond B. Dillard e Tremper Longman III; tradução Sueli da Silva Saraiva. São Paulo: Vida Nova, 2006, p. 160-161


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