A extensão do cânon do Antigo Testamento

A extensão do cânon do Antigo TestamentoAs controvérsias modernas sobre o processo de canonicidade e a classificação dos livros em gruposAs Escrituras Sagrada, como temos hoje, continua sendo alvo de questionamentos por parte de eruditos modernos. Em consequência disso, os livros bíblicos receberam várias classificações quanto a sua aceitação canônica. São elas:

Os livros aceitos por todos
Homologoumena – falar como um. Diz respeito aos livros que foram reconhecidos canônicos desde sua recepção pelo povo de Deus, e permaneceram sem questionamento ao longo do tempo.

Os livros rejeitados por todos
Pseudepígrafo – Falsos escritos. Compreende vários livros que circularam na antiga comunidade judaica. Em sua maioria, estes livros estavam baseados em verdades, e exploravam passagens que não foram reveladas em detalhes nas Escrituras Sagradas. O numero deles chegava a 17, mais o salmo 151. Podendo esse número aumentar se considerarmos as descobertas do Mar Morto. Eles foram produzidos desde 200 aC. até 200 dC., e muitos imitavam o estilo apocalíptico dos profetas do período exílico. Eles, porém, não foram reconhecidos como tendo autoridade canônica.

Os livros questionados por alguns
Antilegomena – falar contra. Constitui um grupo de 5 livros que em algum momento foi questionado pelos mestres judeus. O Cântico dos Cânticos, por sua natureza sensual. Eclesiastes, por seu ceticismo. Ester, pela ausência do nome de Deus. Ezequiel, por ser anti-mosaico. E, Provérbios, por suas incompatibilidades internas. Contudo, prevaleceu o espírito de que cada um desses livros deve ser entendido dentro de sua perspectiva espiritual.

Os livros aceitos por alguns
Apócrifos – oculto. São assim chamados, os livros aceitos pela Igreja Católica Romana como canônicos, mas rejeitado pelos protestantes como tal, apesar de reconhecerem seu valor histórico. Estes livros são os responsáveis pelas maiores controvérsias, e correspondem aproximadamente a 15 livros produzidos no período intertestamentário.

Aqueles que defendem a canonicidade dos livros apócrifos argumentam que o fato de serem citados no Novo Testamento, de estarem presente na Septuaginta, de constarem em alguns dos manuscritos mais antigos, de serem retratado nas artes cristãs, de terem sido usados por alguns pais da igreja – alcançando o ponto máximo em Agostinho que os considerou canônicos, de algumas traduções protestantes da Bíblia os incluir, de alguns deles terem sido encontrados entre os escritos do Mar Morto, legitimam a decisão tomada no Concílio de Trento, em 1546, que os declarou canônicos. Pode-se perceber que o uso abrangente destes livros, acabou levando ao seu reconhecimento por parte dos católicos romanos.

Posições contrárias à canonicidade dos livros apócrifos também foram levantados para questionar a decisão tomada em Trento.

Entre as posições contrárias à canonicidade dos apócrifos está o argumento de que o Novo Testamento não dá qualquer indicação de inspiração a estes livros. Afirmam também que a Septuaginta não é um cânon, mas uma tradução, e, Alexandria não é o berço original da autoridade do cânon, e sim, a Palestina, concluindo que o cânon hebraico não continha os apócrifos. A igreja cristã primitiva, apesar de fazer uso da Septuaginta não se refere aos apócrifos. As artes cristãs representavam acontecimentos do período interbíblico, mas isso não se constitui base para a canonicidade dos livros. Apesar de Agostinho ter considerado canônicos alguns destes livros, mas não todos, nenhum dos mais importantes Pais da Igreja anterior a ele reconheceu a totalidade dos livros apócrifos. Jerônimo, tradutor da Bíblia para o latin, recusou incluir os apócrifos em sua versão. Vale dizer também que a polêmica do Concílio e Trento, reagindo contra Lutero, e declarando canônicos os livros apócrifos, foi prejudicial à cristandade e não teve apoio geral dentro da própria Igreja católica Romana. O argumento de que os livros apócrifos eram usados nas igrejas não católicas, e que por isso deve ser levado em conta, deve ser rejeitado pois estes serviam mais nos devocionais do que na afirmação de alguma doutrina, e seu uso nos cultos nunca foi geral. Por fim, apesar da comunidade de Qumran preservar em sua biblioteca alguns escritos apócrifos, não faz referência à inspiração de nenhum destes livros.

O cânon hebraico das Escrituras foi encerrado cerca do IV século aC, e não continha os apócrifos, que são posteriores. Mesmo que estes livros tenham sido largamente usados pelos cristãos dos primeiros séculos, permaneceram considerados como não canônicos. Portanto falta aos apócrifos provas mais segura de sua canonicidade, como há provas bastante segura de sua não canonicidade.

GEISLER, Norman; NIX, Willian. Introdução Bíblica: Como a Bíblia chegou até nós. São Paulo: Vida, 1997. Pg 85 - 98.

Centro de Estudos Teológicos das Igrejas Reformadas do Brasil (CETIRB)
Lucio Mauro, seminsrista do CETIRB

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