SÉRIE: LITURGIA. A Bênção

A Benção de Deus para o Seu Povo
por Rev. Elissandro Rabelo
Igreja Reformada em Maragogi-AL

Introdução: No fim de nossos cultos a benção de Deus é proferida ao povo pela boca do ministro. Como a saudação, a benção não é um elemento mágico ou supersticioso, mas representa uma realidade de profundo significado para o povo de Deus. É desejo de Deus abençoar a vida do seu povo, pois ele ordenou os sacerdotes de proferir sua benção sobre Israel (Nm. 6.22-27).

Nosso costume de proferir a benção do Senhor no fim do culto está baseado em dois acontecimentos: 1) No fato de que os sacerdotes do VT, quando terminavam seu trabalho no santuário, proclamavam a benção sobre o povo (Nm.6.22-27). 2) Na prática comum dos apóstolos de concluírem suas cartas com uma benção de Deus para o povo (Rm.15.13; Gl.6.18; II Co.13.13; Ef.6.23,24; Hb.13.25; Ap.22.21). Ambos eram matérias de liturgia, como está claro no VT e da prática do NT de ter estas epístolas lidas durante os cultos.

Características da Benção Sacerdotal:
1) A benção sacerdotal encontra-se num contexto de purificação (5.1), consagração (6.1) e dedicação ao SENHOR (Nm. 7). Deus abençoa o seu povo e exige dele santidade.

2) Com a proclamação da benção sacerdotal, Deus revela que seu objetivo permanente é abençoar todo o seu povo e não meramente aqueles que fazem voto de nazireu. Enquanto os nazireus geralmente faziam o seu voto por um curto período de tempo, os sacerdotes estavam sempre ali, pronunciando esta benção no fim dos trabalhos matutinos diários no templo e mais tarde nas sinagogas.

3) A proclamação desta benção pelos sacerdotes era uma garantia de que Deus de fato iria por o seu nome sobre os filhos de Israel (Nm. 6.27).

4) A benção sacerdotal é composta em forma poética e se constitui num dos poemas mais antigos da Bíblia. Gramaticalmente não há a necessidade de se repetir o nome de Deus, mas a repetição (3 vezes) enfatiza que só o Senhor é a única e plena fonte de bênçãos para o seu povo.

5) O aspecto poético da benção aponta para o seu rico e crescente conteúdo que culmina na palavra paz. Cada linha tem o Senhor como sujeito e o seu nome é seguido por dois verbos, o segundo dos quais expande a idéia do primeiro: abençoe – guarde; resplandeça - tenha misericórdia; levante - te dê a paz. O primeiro verbo invoca o movimento de Deus em direção ao seu povo e o segundo, a sua atividade em seu favor.

O SENHOR te abençoe e te guarde – Embora “benção” seja um termo amplo, ele tem um teor específico no AT. Deus abençoa as pessoas dando-lhes filhos, propriedades, terra, boa saúde e principalmente sua Presença (Gn. 17.26; 22.17s; Lv. 26.3-13; Dt. 28.2-14). Ser guardado por Deus é estar debaixo dos seus cuidados e sob sua proteção diante das aflições desse tempo (Sl. 121; I Pe.1.5).

Faça resplandecer o seu rosto sobre ti – Quando Deus sorri sobre o seu povo, este pode estar certo de que ele terá misericórdia deles, isto é, Ele o libertará de seus problemas, ouvirá suas orações e o salvará de seus inimigos, doença e pecado (Sl.4.1; 6.2; 41.4; 51.1).

Levante o seu rosto e te dê a paz – Levantar os olhos ou a face significa prestar atenção, estar atento para abençoar (Gn. 43.29; Sl. 4.6; 34.15). Paz (shalom) significa mais que ausência de guerra. Quer dizer bem estar, saúde, prosperidade e salvação, em resumo, o total de todas as boas dádivas de Deus ao seu povo.
A Benção Sacerdotal e o Relacionamento de Deus com seu povo

1) Encontramos remanescentes da benção sacerdotal no livro dos Salmos: 4.7; 31.17; 43.4; 44.4; 80.1,4; 89.18 e 118.27. Este último, Sl. 118 era cantado durante a festa dos Tabernáculos. Então todo Israel vinha e parecia diante do SENHOR Deus (Dt. 31.18).

2) No santuário estava a “panim” de Deus, sua face, seu rosto. Israel aparecia perante a face do SENHOR. A glória de Deus, Seu Shekinah, repousava sobre a arca da aliança: maior manifestação de sua ativa presença (Ex.34.33-38). Este Shekinah, imensa luz, é frequentemente identificado como o panim de Deus – expressão no Sl. 4.7 (Tb. 27.1,8, 9; 31.16). Esta luz brilharia sobre os israelitas. A face e o rosto seriam deixados sobre eles conforme a benção sacerdotal.

3) A presença de Deus e sua atividade abençoadora sobre Israel estariam sobre eles não somente enquanto estavam no santuário em adoração, mas também quando retornassem e assumissem suas atividades diárias de novo. Deus estaria com eles por meio de sua palavra: seu Nome (sua palavra) era colocado sobre os filhos de Israel por meio da benção (Nm. 6.27). “A Palavra está perto de ti”.

4) Esta benção estava intimamente relacionada com a aliança de Deus. É um fato marcante que a primeira benção que a Bíblia menciona é a ordem para o homem tomar a posição de representante real de Deus na terra - Gn. 1.27,28 - uma benção no imperativo. Não é esta a idéia principal de todas as grandes alianças da Bíblia: que elas instalam um homem ou ainda uma nação inteira a uma posição de rei vassalo ou reino de Deus?

5) Outro aspecto que a benção está intimamente ligada ao pacto é que nós encontramos as bênçãos de Deus junto com as maldições nos diferentes textos pactuais que a Bíblia reproduz: “Os Dez mandamentos”, Deut. 11.26-32 e 27-29; Js. 24 e etc. No relacionamento pactual, a obediência produz benção enquanto que a desobediência traz a maldição (Dt. 28).

6) Quando Cristo veio estabelecer a nova aliança, ele assegurou um novo conjunto de bênçãos, nas chamadas bem aventuranças (Mt.5.3-12). O evangelho inteiro de Cristo foi simbolizado no gesto com que ele deixou seus discípulos ao ascender aos céus: Ele os abençoou (Lc. 24.51).
Aplicações Gerais:

1) O que a benção no fim do nosso culto expressa? Que Deus estará conosco, em sua ativa presença, com sua palavra e Espírito. O fim de nossos cultos é um fim ótimo. Ele resume o que é nossa liturgia inteira e o que ela pretende: fortalecer-nos na convicção de que Deus está conosco, Sua palavra está perto de nós, que nós podemos viver em aliança com ele, de modo que podemos renovar nossa fidelidade no pacto.

2) O ato de receber a benção do Senhor no final do culto mostra-nos que “Liturgia Reformada” não é para ser restrita a algumas horas piedosas na igreja, mas que a real liturgia começa quando o culto termina, ou seja, estende-se por toda nossa vida. A benção, a graça, a paz e a comunhão do Senhor nos acompanharão durante todos os nossos dias. A relação pactual continua a cada dia da vida. Nós podemos viver nossa vida diária debaixo da benção de Deus.

3) Seria um insulto ao SENHOR, se nós, durante a benção, estamos desatentos e já nos preparando para partir. Olhos, ouvidos, mente e coração devem ser bem abertos para receber a benção do SENHOR.

4) Não há benção de Deus quando há desobediência na vida. Deus não há de abençoar àqueles que se mantêm rebeldes e desobedientes contra Ele e sua palavra. O fato de ouvir a proclamação da benção da boca do ministro não garante a benção de Deus aos infiéis. Lembrem-se que a benção foi pronunciada num contexto de purificação, consagração e dedicação ao SENHOR (Nm. 5.1; 6.1-27; 7).

5) Deus abençoa o seu povo mediante a pessoa e a obra de Cristo. A face do Senhor resplandece sobre nós porque um dia esta mesma face foi virada contra Cristo na cruz do Calvário. Jesus nos deu a sua paz e ele é a nossa paz (Jo. 14.27; Ef. 2.14ss; Rm.5.1). Cristo nos protege e guarda na salvação até o fim por seu Espírito e sua palavra. Toda vez que recebermos a benção do SENHOR, lembremo-nos que o castigo que nos traz a paz estava sobre Cristo e que Ele pagou um alto preço e suportou a ira de Deus para recebermos sua misericórdia e sermos ricamente abençoados por Deus (Ef. 1.3-14; Gl. 3.13-14; II Co. 8.9).

6) A igreja peregrina de Cristo já desfruta da benção de Deus em sua jornada na terra. Mas essa benção só será completa na Nova Jerusalém (Ap.22.4,5). Ali a benção de Deus sobre o seu povo será plena, eterna e gloriosa.

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