SÉRIE SERMÃO: Lucas 13.1-5

Sermão proferido pelo pastor Elienai Batista no púlpito da Igreja Reformada em Cabo Frio no dia 31 de janeiro de 2010.

Texto: Lucas 13.1-5

“Naquela mesma ocasião, chegando alguns, falavam a Jesus a respeito dos galileus cujo sangue Pilatos misturara com os sacrifícios que os mesmos realizavam. Ele, porém, lhes disse: Pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem padecido estas coisas? Não eram, eu vo-lo afirmo; se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis. Ou cuidais que aqueles dezoito sobre os quais desabou a torre de Siloé e os matou eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? Não eram, eu vo-lo afirmo; mas, se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis”.

Amados irmãos em nosso Senhor Jesus Cristo e visitantes,

O ano de 2010 começou com diversas calamidades. O desmoronamento em Angra dos Reis, as diversas enchentes e o terremoto no Haiti. Sempre que calamidades assim ocorrem, seja a nível internacional, seja a nível local, provocam diversos tipos de comentários. Aqueles que não se lembram de Deus durante todo o ano, logo ousam dizer: “Se Deus existisse coisas como essas não aconteceriam”. Outros dizem: “Por que coisas ruins acontecem a pessoas boas?” Outros por sua vez, dizem: “Bem se aquelas pessoas morreram deve ser porque mereciam”.


Nos tempos de Jesus as pessoas reagiam como este último grupo. Os judeus entendiam que toda calamidade era sinal de castigo. Podemos lembrar do cego mencionado em João 9, quando os discípulos perguntaram: “Quem pecou ele ou seus para que nascesse cego?”

Foi num contexto como este que alguns trouxeram uma informação a Jesus. Informação essa que Jesus utilizou para ensinar sobre a necessidade de arrependimento.


A notícia era a seguinte: Homens da Galiléia, possivelmente ativistas políticos que desejavam libertar Israel das mãos do romanos, tinham ido a Jerusalém para sacrificar e quando eles estavam no templo, no ato de oferecer sacrifícios, soldados romanos ali entraram enviados pelo governador Pilatos e mataram aqueles homens; de maneira que se diz que o sangue deles se misturou ao dos seus sacrifícios. Pelo visto, esta história devia estar na mente dos ouvintes de Jesus, e é provável que fosse bem recente.


Não sabemos por qual motivo vieram narrar essa história a Jesus. Mas pode ter sido citada como um exemplo do tipo de julgamento do qual Jesus acabara de falar no capítulo 12 de Lucas. Jesus falara sobre o julgamento de Deus sobre aqueles que lhe são devedores. De modo que agora alguns dos ouvintes julgavam que esses galileus haviam pago pelos seus pecados recebendo o que mereciam.


Jesus no entanto não concordou com isto. E a fim de mostrar que não eram somente os galileus que sofriam desastres que poderiam ser atribuídos a julgamentos especiais de Deus contra o pecado, Jesus mencionou um incidente ocorrido na torre de Siloé. Esta torre fazia parte das fortificações de Jerusalém, e estava próxima da importante fonte e tanque do mesmo nome. Ali 18 judeus haviam morrido quando a torre caiu. Com este exemplo, Jesus mostrou que os vários desastres, que surpreendem repentinamente diversos indivíduos, não provam necessariamente que tais pessoas são piores pecadores do que outras. Aqueles galileus e judeus não tinham se destacado para uma morte horrível por que eram piores do que os outros.


Assim Jesus está dizendo aos seus ouvintes: “Vocês pensam que o que aconteceu àquelas pessoas, lhes aconteceu por serem elas “mais culpadas”, ou “mais devedoras” de obediência a Deus do que vocês?


Com isso Jesus mostra que aqueles informantes estavam “prontos para julgar e tardios para se arrepender”. Por isso, Jesus lhes exorta a examinarem seus próprios corações e pensarem a respeito de seu estado diante de Deus.


Notem que Jesus não explicou por quais motivos pessoas morrem tão violentamente, ou por qual razão outras sofrem acidentes terríveis. Mas Ele apontou para o fato dessas coisas serem advertências para os que ainda estão vivos.


E então Jesus se volta exclusivamente a esta questão do arrependimento, frisando que a ameaça de julgamento (até mesmo de julgamento súbito), não está limitada àqueles que são reputados como sendo mais devedores. O que Ele estava dizendo é que tanto os galileus, como os judeus, como qualquer outra pessoa, deveriam ver essas calamidades como uma séria advertência para a necessidade de arrependimento.


Jesus estava dizendo àquelas pessoas: “Que importa se aqueles galileus morreram subitamente? Em que isso é importante para vocês? Nisso: considerem seus próprios caminhos. A menos que se arrependam, vocês também perecerão”. Assim, Jesus conclama todos ao arrependimento, pois todos são pecadores. Notem o “se” (v.3) – “se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis”. Este “se”, indica uma condição, ou seja, somente o verdadeiro arrependimento pode desviar os pecadores do grande desastre do dia do juízo.


Mas o que significa arrepender-se? “Arrependimento”, literalmente significa “Mudança de mente”. Arrependimento sempre fala de uma mudança de propósito e de abandono do pecado. No sentido usado por Jesus, o arrependimento é um chamado a repudiar a vida no pecado e voltar-se para Deus a fim de ser salvo. Arrepender-se é reconhecer que você é um pecador, é sentir tristeza por seus pecados contra Deus, é abandonar tudo aquilo que é contra Deus lutando por toda vida contra o pecado em sua própria vida. E segundo Jesus, a menos que você tenha experimentado isso, você vai perecer, vai sofrer o juízo de Deus.


Agora precisiamos notar que o “arrependimento” é tanto uma coisa que tem de acontecer no início de nossa caminhada cristã, como algo que deve marcar todos os dias de nossas vidas. E apesar do arrependimento, essa mudança da mente ser algo interior, ela necessariamente resulta em mudança de comportamento. O arrependimento afeta o homem todo: seus pensamentos, seus desejos, sua satisfação, suas palavras e suas atitudes.


Mas quem deve arrepender-se? Aquelas pessoas apontavam para os que haviam morrido, Jesus aponta para todos. Ele estabeleceu a necessidade universal de arrependimento. Se todos pecaram, todos merecem perecer (Rm 3.23), então todos precisam se arrepender. Não importa o quanto uma pessoa se julgue boa, ou quantas boas obras tenha realizado. A questão é que ninguém pode ser perfeitamente justo diante de Deus, ninguém pode dizer diante de Deus: “Eu não tenho pecado”. Todos estão em dívida para com Deus. Então, todos precisam se arrepender de seus pecados.


Portanto, devemos estar perplexos não com o fato de que alguns morrem subitamente, mas com o fato de que agora mesmo a terra não se abra a consuma a todos os pecadores. Na verdade somente a misericórdia divina é que impede que todos igualmente morram pelos mesmos meios. Somente a misericórdia de Deus é que todos sejam punidos agora mesmo.

Em nosso texto Jesus ensina que a morte é sempre um castigo merecido. Em Romanos 6.23, lemos sobre isso: “Porque o salário do pecado é a morte”. Salário indica merecimento e o que todos os pecadores merecem é a morte. À luz do que a Bíblia ensina, não há inocentes aos olhos de Deus.


Aqueles galileus e aqueles judeus não eram inocentes. Eles eram pecadores, não mais que os outros, mas eram pecadores. O princípio estabelecido por Jesus é que a morte é, num sentido ou outro, o resultado de nossos pecados, ela é merecida. Todos merecem perecer por causa de seus pecados, é o que Jesus diz.


Como todos os homens são merecedores da morte, a advertência de Jesus é para que todos abandonem seus pecados e se voltem para Deus. Todos, precisam se arrepender. Ninguém deve orgulhar-se como se não precisasse de arrependimento, como se não precisasse de Cristo.


Amados irmãos e visitantes, Jesus ensina nesta passagem que desastres e calamidades servem de advertência para os pecadores. Servem para levar os pecadores a meditarem em sua própria condição diante de Deus e sobre sua necessidade de arrependimento. Mas há pessoas que olham para desastres e calamidades e não se apercebem de que Deus lhes está advertindo, para que se arrependam.


Assim como naquela época as pessoas se mostram mais dispostas a conversar a respeito da morte de outros do que a respeito de sua própria morte e de suas esperanças referentes ao pós-morte. Não gostam de falar destas coisas quando o seu nome está envolvido. Fogem do assunto. Não gostam nem de pensar.


Por que é assim? Será que você não faz o mesmo? Responda para si mesmo. Por que você teme estes assuntos? Por que quando acontece uma calamidade você não pensa a respeito de você mesmo? Será você pensa que é intocável? “Coisas assim não me acontecerão”, você diz. Como você pode ter certeza disso? Será que pessoas como as que morreram no Ano Novo em Angra dos Reis, não pensavam assim também, mas o que lhes aconteceu?


Muitos fogem destes assuntos por saberem não estarem preparados para a morte. Tentam acalmar sua consciência procurando esquecer que um dia terão de estar diante de Deus. Talvez nenhuma calamidade se abata sobre nenhum de nós que está aqui, mas é certo que se algum de nós morrer sem se arrepender, haverá de perecer. Aqueles que não se arrependerem certamente sofrerão o castigo eterno. Foi isso que Jesus disse.


Portanto, quando você ouvir acerca de mortes súbitas e calamidades, pense primeiramente a respeito de sua própria vida. Pense sobre sua situação diante de Deus e diga a si mesmo:

· “Estaria preparado, se tivesse acontecido comigo?”

· “Meus pecados estão perdoados?”

· “Arrependi-me de todos os meus pecados?”

· “Já acertei minha dívida para com Deus?”

Essas perguntas são sérias. Merecem intensa consideração. O arrependimento não é assunto insignificante. Nada menos do que a eternidade está em jogo. Seria melhor que você não tivesse nascido, do que se você morrer sem arrependimento. É um assunto tão sério que mesmo que você se considere um cristão é bom você examinar seu coração para ver se possui este arrependimento. Você já reconheceu diante de Deus seus pecados e miséria espiritual? Você já se humilhou diante de Deus reconhecendo que não pode salvar a si mesmo e que portanto precisa de Cristo? Você pode ver os frutos desse arrependimento em sua vida?

Quero que vocês considerem o seguinte: Se nos fosse permitido fazer uma visita aos condenados ao inferno, veríamos pobres almas presas nas cadeias tenebrosas sendo atormentadas com um tormento que não tem fim; descubriríamos que o seu bicho não morre e que ali o fogo nunca se apaga. Ouviríamos seus gemidos, seus gritos, seus lamentos, seus prantos, seu ranger de dentes. E então descubriríamos que todas aquelas almas sabem o significado das palavras de Jesus: “Se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis”. E se pudessémos perguntar aos que estão em tormento, se eles se arrependeram, se odiaram o pecado e o abandonaram, se obedeceram aos mandamentos do Senhor. Todas eles diriam não, não fizemos isso, antes procuramos viver como bem nos parecia nos entregando aos prazeres. Outros diríam: nós pensávamos que estávamos salvos porque íamos a igreja, mas nunca havíamos nos arrependido, mas apenas nos escondíamos na religiosidade e esta foi a causa de nossa desgraça.

Talvez você não esteja muito preocupado com sua condição diante de Deus. Talvez esteja iludido com um falso cristianismo que lhe diz que você vai conseguir realizar todos os seus sonhos, mas não lhe diz coisas como as que Jesus diz aqui. Talvez você esteja tão sossegado sobre o futuro de sua alma como estavam as milhares de pessoas que morreram no terremoto no Haiti, ou na catástrofe em Angra dos Reis.

Se você ainda não se arrependeu de seus pecados, se ainda não colocou sua confiança somente em Cristo para sua salvação, se não pode ver os frutos do arrependimento em sua vida, não importa o quão religioso você seja, quanto tempo tenha numa igreja, você ainda precisa atentar para as palavras de Jesus:

“Se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis”.

Não confie em suas boas obras, não confie no fato de ser um religioso ou ir a uma igreja. Deus exige mais do que isso, Ele exige verdadeiro arrependimento e total e exclusiva confiança em Jesus Cristo para que você seja salvo. Portanto, arrependa-se e corra para Cristo. Ele oferece gratuitamente, perdão para todos os seus pecados. Se você se arrepender e crer em Jesus para sua salvação, mesmo que você seja alcançado por uma calamidade e morra repentinamente, a morte se tornará para você um portão aberto para encontrar-se com Cristo. E quando o dia do juízo chegar e todas as coisas chegarem ao fim, você terá a vida eterna em Cristo Jesus.


Quero concluir com as palavras de Isaías 55.6,7:

“Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar”.

Amém!

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